Minha dica literária desta semana é literatura Russa... tudo quanto se entende por russo.
Desde que comecei a coluna estou sempre falando de literatura não ocidental. Antes dei como dica Kawabata, grande escritor japonês do séc. XX, depois indiquei as fantásticas histórias das mil e uma noites, clássico árabe por excelência – sobre o qual voltarei a escrever. Desta feita vos indico os Russos.
Haverá qualquer de vós que protestará e dirá que os clássicos russos sempre estiveram, desde o novecentos, no panteão dos clássicos ocidentais. Mas, como quem vos escreve sou eu, e posto que não busco concordância ou aprovação, reservo-me no direito de classificar como quero.
Literatura russa é russa, antes de ser qualquer outra coisa, é Russa... É daquela parte da terra onde a palavra infinitude traduz-se como lugar.
O genérico da dica é justamente “literatura russa”, e o particular é que indico a leitura de Gorki.
É possível, e provável, que muitos nestas bandas tenham passeado pelas novelas de Dostoievski; ler um conto de Tchekhov é coisa que fazemos desde a série “Pra Gostar de Ler”, Anna Kariênina virou até filme, e assim Tolstói não é mais tão desconhecido. Mas, Makisim Gorki foi pouco traduzido por estas bandas, fora qualquer conto seu – há que se notar que ele não é dos melhores contistas russos, fora sempre ofuscados nesta arte por Tchekhov – posto em séries intituladas genericamente “Contos Russos”, “Os 100 melhores bla, bla...” ou “autores russos”.
De fato, meu primeiro contato com ele foi através de “O Espião”, livro traduzido em Portugal e que me chegou ás mãos por um destes tantos golpes que a sorte nos prega (não há tradução no Brasil e a edição portuguesa esta esgotada a mais de 20 anos). Depois ganhei “A Mãe”, traduzido diretamente do russo por uma editora russa e dado de presente a membros do partido comunista brasileiro na década de 50.
A editora Cosac Naify, que a meu ver é a melhor casa editora do momento, lançou, com fantástica tradução, a trilogia clássica de Gorki: Minha Infância, Ganhando Meu Pão e Minhas Universidades.
A edição pode ser comprada em um caixa com os três livros, ou separadamente (advirto que não custa parcos reais), mas vale a pena.
A narrativa é cheia de emoção e melancolia. Constitui também uma autobiografia, cheia de vida, e por isso mesmo, cheia de dor, desesperança, desvario, humanidade, sonhos... Uma vida contada sem meias palavras, com poucos floreios, onde final feliz não se espera.
Uma forma russa, gorkiana, de contar.
Vale fazer duas notas importantes:
Os prefácios e posfácios são muito bons; o primeiro e o terceiro livro são traduções de Rubens Figueiredo, e o segundo é de Boris Schinaiderman, dois bons tradutores, talvez os melhores do russo ao português, mas com estilos e formas bem distintos. Não chega a comprometer, mas depois de ler o primeiro livros, com a fluidez que nos dá Rubens, cansa um pouco os excessos de erudição do Boris, mas depois se chega novamente à fluidez da tradução do Rubens no terceiro livro.
Vamos à leitura.
Grande Ney! Parabéns pelo blog.
ResponderExcluirOs russos! É, eu tenho um encontro marcado com eles, desde quando comecei Os Irmãos Karamazov e não terminei.
Abraço!
Visita o meu qdo estiver livre dos russos: buracodacatita.wordpress.com